quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Demoníaco

Daniel Braz

O homem vitrine se veste a chicotadas.
Pelo seu corpo, etiquetas e marcas,
Ferraduras em suas patas.
Pensa, cria, produz, trabalha,
Para a atender a demandas de outrem,
Por outrem inventadas.
Uma piada...

Aplicar? Objetivamente?
Viver cada segundo já é pôr em prática...
Mas saiba:
O amor é demoníaco,
E o ato de criar é subjetivo...
Prefiro, assim, ser como um palhaço
Que solta risos e gargalhadas
Assistindo aos saltos precisos do convencido acrobata.
Enquanto o palhaço cai de bunda e dá cambalhota,
O acrobata esquece do chão enquanto no ar mergulha.

                                   *

Meu espetáculo não se embrulha,
Não faz pacote.
Do contrário, o papel lamberia-se de fogo.
Porque o produto sai quente,
Tipo "hot",
Direto do ventre, que se faz forno,
Com auxílio da mente que fermenta o bolo.
E tem mais...
Filho dos outros eu não roubo,
Pois sou mãe parideira.
Mas tampouco concebo por encomenda,
Muito menos se for em sequência.

Afinal, cria minha só pode ser poema sincero,
E coloco a rima onde e quando eu bem entender,
Não me restrinjo a regras,
Não tenho lógica,
Não sigo esquemas.
Imprimo a ferro e fogo a minha marca,
A marca minha,
Minha.

domingo, 25 de novembro de 2012

Metáforas II

Daniel Braz

A garrafa caiu,
Espalharam-se os cacos,
Ouviram-se gritos escandalizados.

No meu pé, nenhum arranhão sequer.
No chão, cenário de estrago,
Caos generalizado,
Vidro em mil pedaços.

Cacos no piso, cacos no teto, cacos na parede.
Cacos sobre os móveis e embaixo deles.

Peraí... No instante fatídico, o recipiente estava cheio ou vazio?
Bom,
Se estava vazio, considero a metáfora do aviso.
Aproveito a chance e reseleciono cuidadosamente, dessa vez, meu líquido.
Se estava preenchido, reconheço também o sinal divino,
E escolho melhor meu recipiente de vidro.

Mas antes, abro bem os olhos,
Presto atenção aonde piso,
E trato de limpar logo essa sujeira!

sábado, 24 de novembro de 2012

Horário

Daniel Braz

Acorda cansado,
Viaja no horário,
Sai em cima do prazo.

Cai no trânsito
E o enfrenta.

Chega atrasado demais,
Se enrola.
Até estar pronto demora um ano,
Mas não perde o ponto, nem se mostra incapaz.

Na última hora é tranco,
Mas até que ele aguenta!

OBS.: Da próxima vez eu acerto, não esquenta!

Ideias

Daniel Braz

Recursos renováveis,
Não dependem de ninguém.
Matéria-prima para o lúdico,
Visíveis somente aos olhos nus do Homem,
Cabe a nós apenas permutá-las,
Recortá-las,
Dando-lhes formas palpáveis à nossa estética.

Quem, porém, não arruma o quarto perde a razão das ideias,
Agora desconexas no chão bagunçado.
Então, deixe de preguiça, moleque,
Recomponha-as peça por peça,
Não necessariamente do modo que era.
É até melhor assim.

Tenho pena de quem vê na confusão o fim, o fardo.
Estes se alimentam da depressão
Como se fosse fato consumado.
Não se ligam de que é justamente o contrário.

Então me mostre onde há ordem que eu vou lá e embaralho,
Sem remorso...
Natureza não é arranjo,
Não está contida em tempo, circunstância e espaço.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Metáforas I

Daniel Braz

O surfista se amarra no mar apenas quando agitado,
O idoso prefere ele calmo, ainda mais quando há bancos de areia.
Para a criança tanto faz,
E, em seu sagrado "sim",
Mostra que mudança e variedade são substratos da brincadeira.
                                       
                                              *

300 km/h,
Uhh, emocionante!
40 km/h,
Ó, tédio!
Melhor ainda é correr na direção contrária,
Para chegar rápido aonde todos sentem-se repelidos,
De onde emigram,
À procura dos seus privilégios.
Mas calma, 300 km/h é muito arriscado...

                                              *

O gato que pula aonde quer
Derruba abajures, quebra pratos,
Porta-retratos, ...
Não que tais objetos tenham valor real...
No máximo, emocional!
Mas, ainda assim, desnecessário se faz um quebra-quebra,
Por simples falta de caultela.
Causa e efeito é regra!
É coisa séria!

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Infalível

(22/08/2012)
Daniel Braz

Em mim o Amor enfim se manifesta.
Vasto, áudio-táctil,
Não-visualizável.
Derrama ansioso através dos orifícios do meu corpo compacto,
E é contido apenas em função de gargalos.

A nudez não mais é segredo.
Em ti confio,
A ti respeito.
Não tenho medo dos erros,
E nada valem os acertos.
Pois, se é possível medir o que é amplo ou reduzido,
É impossível graduar o infinito.
O amor é infalível!

domingo, 18 de novembro de 2012

Politicamente incorreto e mal educado

Daniel Braz

Hipocrisia é uma merda...
Por que não jogam logo fora suas máscaras de anjos celestiais?
Duvido que, como tais, se manifestem como seres humanos integrais!
Suas palavras e rituais me dão nojo...
Tenho desgosto de fariseus e seus estelionatos cada vez mais elaborados.

Se é assim, enfiem no cu seus gravadores de áudio,
Seria melhor do que se som passasse por seus ouvidos adulterados.

Queimem, portanto, seus livros sagrados,
Para que o fogo dos seus olhos não consuma os lindos versos ditados.

Pois, então, façam jejum de suas secretas prasadams,
Antes que envenenem os que matam fome com restos e sofísticas charadas.

E que suas máscaras pelo menos venham equipadas com filtros.
Assim os sadios não correm o risco de contrair qualquer vírus!

Finalmente, mantenham distância dos desprevenidos em relação às bactérias de seus corpos teoricamente limpos!
Sim, estou grosso e agressivo!

Não tenho medo de ser espontâneo, certas vezes impulsivo!
Que se fodam os infelizes comentários daqueles que se dizem anjos.
Suas ideias estão fadadas à incompletude,
Verdadeiras ou falsas,
São apenas fragmentos lógicos,
Porém perecíveis,
Daquilo que por inteiro exteriorizo, amiúde.

Não tenho por que temer seus ardilosos sibilos se,
Imerso na consciência suprema,
Meu coração está tranquilo,
E meu pensamento está muito além do dual subjetivo,
Do positivo ou negativo.

Xô, raça de víboras!

Sólido e líquido

Daniel Braz

Me salvei do liquidificador,
Para liquidar o que penso que sou,
E deixar-me ser tudo de uma só vez.
Porém, meu ponto de vista será sempre o de uma célula conectada a um organismo...
Dotado de um sentido para além de si próprio, para o qual vivo.

Sou bom servo do corpo imperecível
 - Cuja essência atômica me é mais do que semelhante -,
Através do qual me alimento,
Me banho,
Me regozijo,
E, no calor ou no frio,
Fico permanentemente rijo.
No rosto trago um sólido sorriso,
Confiante, grato e satisfeito,
Entregue à vontade quem vem do peito,
Num estado estável de eterna embriaguez.

Estou célula, estou tecido,
Estou órgão, estou aparelho,
Estou organismo, estou indivíduo,
Estou família, estou partido político,
Estou sociedade, estou nação.
Estou no sentido ou estou na contra-mão.
Mas sou coeso, feliz e livre de limitação.