domingo, 29 de outubro de 2017

Fome e sede

Daniel Braz

Tenho fome de ciência
E sou consciente do apetite daquilo
Que me faz nutrir minhas vísceras,
Que dá sentido à minha pélvis,
Em cuja conta eu ponho meu amor,
Erótico, criador.

Ó, objeto da minha fome,
Minha conquista,
Minha riqueza mais pessoal.

Pelos porquês eu vivo.
Em função deles me permito
Experimentar o mundo com ares de alquimista,
Examinando sua superfície
e também seu avesso,
Manipulando-o.
Assim, conheço.

Minha amostra é o solo em que eu próprio piso,
Que, em meus pés, eu sinto pressionar,
Entendendo, sem visão, o que por esta não pode ser entendido,
Pois o tato é o mais primordial sentido,
Diria também o mais rico.
Tópico do mais subjetivo estudo.

Eu sei, é bem por isso...
Vivemos pelo apetite, 
E a ciência traz grandes perigos...

Mas tenho sede de aventura,
De ampliar minhas latências,
Fazendo modelo a minha inocência,
Meu instinto de prazer.

Aliás,
Se nunca é tarde,
Meus planos aceitam cúmplice.
Há de se querer profunda intimidade.
Alma sincera em cujo corpo se desvela,
E se revela.
Transparente véu.

Tenho saudade de ter saudade.
Tanto faz?
Corajoso é dispensar a mão que agarra e traz de volta,
Que te puxa quando já lhe falta ar.

Mas vou pro mar mesmo assim,
Mesmo sabendo que mar não tem fim.
Ora nado,
Ora me deixo levar.
Sonhando acordado,
Sem cochilar.