sábado, 9 de dezembro de 2017

Erótico: (I) Nuvens

Daniel Braz

Como uma nuvem,
A ansiedade encobre a luz do sol,
Enquanto este permanece imóvel,
Lançando seus raios.
Enorme farol.
Mas viver é fácil...
É autoevidente.
Basta seguir a corrente,
Que brota da mais íntima nascente.

Precisamos falar sobre o real,
Onde não há acordo com nossos planos,
Mas apenas o inverso.
Na abertura para a contingência,
O ideal é mera forma prévia,
Enquanto o real, substrato de toda aparência,
É o que de fato está ali, expresso.
Tragédia ou comédia,
Em tal contraste, há a margem que nos resta.
Mas a vontade do sujeito é livre,
- Inclusive dele mesmo -,
E, pelo menos para este,
Sempre faz a coisa certa.
No tato, em contato imediato,
Cumpre ao que se presta,
Não importa o nome da peça.

No amor, estamos para além da razão.
No corpo, estamos para além da mente.
Ora, sejamos menos reativos, mais meditativos,
Testemunhas silentes,
Serenas de que todo temor é uma ilusão,
De que não há dor que não se suporte,
E de que as chances de prazer só acabam com a morte.
Nos libertando de antigos parâmetros
E de sonhos juvenis de um futuro que satisfaz,
Deixemos que o amor brilhe aqui, em ação.
Especulação jamais.
Amor não é memória, nem tampouco imaginação.
Ele está vivo, e precisa de ar.

Apesar de mim, lhe dou amor.
Apesar dos traumas e dos riscos, lhe dou amor.
Não sei por que,
Nem pra que,
Mas sei que...
Transbordaria em você todo o excesso do meu amor próprio.
Ou até mesmo seria contigo uma e única solução homogênea.
E me pergunto por que você ainda está aí,
No topo de um castelo flutuante,
Sem portões ou janelas,
Sendo que, num sentido lírico,
Você me completa.
No fundo ainda espero que você desça daí e venha.

Em prol da certeza, seu sacrifício é o que te leva à paralisia.
Você não chega ao seu objetivo.
De palavra em palavra,
De teoria em teoria,
Adiciona névoa às nuvens em plena manhã,
Tornando tudo mais escuro,
Sem contudo transformar em noite o que ainda é dia.
Isso aí, só o Tempo de fato cria.
Ó, ser todo auspicioso,
Para quem toda culpa é vã,
Lá vamos nós de novo em sua crista.

Eu, por amor, sigo sendo um alquimista.
Inspirado eternamente por Eros,
De fato não preciso de ti,
Mas a ti me entrego.
E, assim, à vida não me nego.

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