sábado, 8 de julho de 2017

Rotação

Daniel Braz

Eu não tenho controle,
Não respondo por mim,
Tô descendo a ladeira,
E meus pés são patins.
O rolamento é leve,
A descida é íngreme,
A vida é breve,
E deve ser aceita assim.

Segura firme,
Me dê a mão.
Tudo gira,
Tudo roda.
Lá fora tudo passa,
Mas aqui dentro tudo volta.
Pois cada um já traz sua norma,
E é ela que nos controla
A cada hora,
Em cada ação voluntária.

Larguei de vez a ilusão binária,
A pretensão do pensamento
Que pensa que é fonte primária.
Um sonho bom permanece sonho,
E eu prefiro as coisas claras.
Sonhei que era rei,
Mas toda vida é escrava.
Liberdade é apenas uma palavra.
Enquanto vivo, sou puro karma,
O eterno retorno,
A roda do samsara.

Lhe ofereço, então, este anel.
Circunferência da minha alma.
E, para além de toda sequência,
De todo arranjo variável de cartas,
O que prometo é aquilo que fica,
Aquilo que sempre volta.

Por favor, me dê o mesmo em troca,
Para que nossa rotação se aproxime,
Em sincronia,
Descendo a ladeira,
No ocaso da vida.

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