domingo, 17 de outubro de 2010

Pior que tá num fica?

Daniel Braz

Se Tiririca é capaz ou não de ler e escrever ainda não sabemos, ou melhor, só poderemos ter certeza após a diplomação do palhaço/cantor/apresentador/puxador-de-votos como deputado federal mais bem sucedido do pleito. O já sabido é que graças aos seus 1,353 milhão de eleitores, o humorista por pouco não atingiu o recorde nacional do falecido Enéas Carneiro, de 1,57 milhão, fato que, acreditem, não é o mais assustador envolvendo sua vitória nas urnas.

Em outras palavras, é inadmissível que uma figura como Tiririca tenha sido eleita por cifras tão impressionantes, pois não se trata, ao contrário do que alguns pseudocidadãos afirmam, de voto de protesto. No final das contas, através do sistema proporcional regulador das eleições de vereadores e deputados, o palhaço ultrapassou em mais de 1 milhão o coeficiente eleitoral e, assim, nomeou, como se não bastasse apenas o próprio, outros 3 candidatos de sua coligação que não ganhariam vaga sem uma “mãozinha”.

Certamente, a aliança “Juntos por São Paulo”, ou seja, PR-PRB/PT/PR/PC do B/PT do B, está comemorando os frutos de sua aposta eleitoreira. Já os demais partidos devem estar se rasgando de inveja ou, no mínimo, utilizando a vitória de Tiririca como inspiração para um tiro certeiro em 2012. Assim, a democracia brasileira segue alimentando os olhos grandes dos próprios políticos, esvaziando o debate e as “ideologias” partidárias. Ou será que alguém realmente acredita na consciência política de candidatos tais como o ex-craque Romário, a (“ex”) funkeira Tati Quebra-Barraco e os ex-famosos Kiko e Leandro, do grupo KLB? O próprio Romário, no ato de sua filiação ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), simplesmente confundiu sua própria sigla, dizendo-se honrado ao entrar para o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).

O caso é que a grande maioria dos brasileiros se vê perdida frente à quilométrica lista de candidatos a cargos eletivos pelo sistema proporcional. Entretanto, o maior problema é que esses mesmos indivíduos, em geral, também não têm informações suficientes a respeito do coeficiente eleitoral e, desse modo, dentre os outros políticos profissionais, acabam sendo atraídos pelo carisma de celebridades já conhecidas.

Por isso, é em função de absurdos como esse que o princípio do voto em lista fechada precisa ser aplicado tão logo quanto possível no Brasil, pois o impossível é conhecer milhares de candidatos que nem sempre têm boas propostas. Se apenas os votos em legenda fossem permitidos e as agremiações definissem uma pequena lista ordenada dos aspirantes a cargos eletivos, fenômenos como o de Tiririca não ocorreriam tão facilmente. Afinal, parafraseando-o, o povo não é palhaço, embora ele seja. Moral da história: o brasileiro necessita de melhores condições para exercer sua cidadania.

Um comentário:

  1. Pesquisa datafolha desse domingo: 30% dos entrevistados já não sabem em quem votaram para os cargos legislativos.
    Isso mostra claramente o que vc apontou sobre o brasileiro ficar perdido diante do número de candidatos.

    Você apresenta uma boa solução, mas o fato é que realmente isso não é nada importante para o partido. Infelizmente, sem querer generalizar, a política é assim: o que da mais exclarecimento pra população se torna segundo, terceir ou quarto plano...

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