Daniel Braz
É triste que, na última semana antes das eleições de 2º turno, o debate entre os presidenciáveis ainda esteja rebaixado à troca de acusações. Se alguém ainda não percebeu, é bom ter em mente que José Serra é o principal responsável por bater nessa tecla. Portanto, agradeçam pelo bom trabalho de seu marqueteiro.
Apesar de assumir frequentemente o papel de vítima de um “jogo sujo” do PT, foi sempre o candidato quem começou, desde junho, novas ondas de denúncias, dedicando considerável parte do tempo precioso de seus programas de TV e rádio a atacar os petistas através de argumentos murchos maquiados por estratégias de retórica, como o de que Dilma não tem trajetória política ou o de que seu partido é contra a liberdade de imprensa. Preencher dessa maneira os poucos minutos de propaganda mostra, no mínimo, falta de prioridades mais construtivas para o voto dentro do programa de governo dos tucanos, que, na verdade, apresentaram apenas dois discursos ocorridos em convenções do PSDB como tal.
Além de cínico, Serra ainda revela-se o pior dos hipócritas, pois até agora o maior jogo sujo desde o início das campanhas não foi obra de Dilma, mas sim dele próprio ao distribuir panfletos de contrapropaganda em nome de entidades religiosas como a CNBB. O presidenciável deveria ser preso por frases como “cristão não vota em quem é a favor do aborto”, já que põe em pauta de forma distorcida um grave problema de saúde pública, sendo, lamentavelmente, endossado por grandes veículos de mídia.
Agredida dessa maneira, Dilma não tem outra alternativa senão revidar os ataques e abrir mão de discutir dignamente os problemas do Brasil. No fim, cabe apenas ao eleitor a tarefa de se informar e ir a encontro da democracia.