terça-feira, 22 de dezembro de 2009

AC/DC - Powerage (1976)


Como sou uma cara de palavra, aqui está o álbum do AC/DC que eu fiquei de disponibilizar pra vocês! "Powerage" vem direto de 1978, quando o grupo, para grande parte dos fãs, vivia plenamente a sua formação mais consagrada, com certeza em razão, principalmente, da inesquecível voz de Bon Scott. E não é à toa, pois não poderia haver uma figura melhor para o posto de frontman do que Bon, que encarnava perfeitamente o espírito machista e totalmente sem frescuras do AC/DC, antítese ao purpurinado Dave Evans, o primeiro a assumir os vocais, em 1973.
Bon Scott nasceu na Escócia, assim como os irmãos Malcolm e Angus Young, fundadores e mentores da banda. Mera coincidência, pois o contato entre eles só se daria em 1974, na Austrália, para onde suas famílias se mudaram quando ainda eram crianças. Fazendo jus ao já comentado espírito da banda, com apenas 15 anos Bon já tinha largado o colégio e passado a trabalhar em qualquer emprego subalterno que encontrasse pela frente. Ainda adolescente ele já havia passado um curto tempo na prisão e alguns meses em uma cadeia para jovens infratores. Quando Bon tentou se alistar no exército australiano, foi recusado sob alegação de ser "socialmente mal ajustado".
Não! Bon Scott não era apenas um maluco inconsequente, ele também era músico (hahah é, talvez eu esteja sendo meio redundante...). Ele tocava bateria e, obviamente, cantava, tendo integrado bandas não muito bem sucedidas como The Spektors, The Valentines e Fraternity. Após deixar o Fraternity e ter sofrido um grave acidente de moto, ele arranjou um novo "bico" como motorista do AC/DC e, posteriormente, quando ninguém mais na banda aguentava Dave Evans, Bon se mostrou interessado em substituí-lo.
A partir daí, o AC/DC inicia sua decolagem, que culmina em 1980, quando a banda finalmente se consagra nos Estados Unidos e se torna, definitivamente, uma gigante do rock. Mas Bon Scott já não estava mais entre nós, tendo morrido em fevereiro do mesmo ano por asfixia em seu próprio vômito, após uma rotineira noite de bebedeira. Logo, o sucesso de "Back In Black", um álbum em sua homenagem, o segundo mais vendido da história, foi uma incrível ressurreição do grupo, fortemente incentivada pela mãe do falecido vocalista, trazendo em seu lugar o veterano Brian Johnson (ex-Geordie).
A chamada "Era Bon" do AC/DC foi impecável, mantendo uma linearidade de discos clássicos desde 1975 até 1979. Fazem parte dessa época, em ordem cronológica, os álbuns "High Voltage", "T.N.T." (para o lançamento fora da Austrália, esses dois álbuns foram enxugados e sintetizados em um só, com o nome de "High Voltage"), "Dirty Deeds Done Dirt Cheap", "Let There Be Rock" (ambos, também, com versões australianas diferentes), "Powerage", "If You Want Blood You've Got It" (ao vivo) e "Highway to Hell".
O disco de hoje, "Powerage", é, para mim, o segundo melhor com Bon Scott como vocalista, atrás, apenas, do épico "Highway to Hell". Não por ter sido um dos mais vendidos ou por trazer um maior número de clássicos, mas por, ao meu ver, consolidar de uma vez por todas a personalidade do AC/DC, trazendo um repertório pesado, bem trabalhado e inspirado. Nenhuma música merece destaque em particular, pois o álbum é arrepiante do início ao fim, mas vale a pena citar faixas como "Rock N' Roll Damnation", "Riff Raff" e "Sin City" como algumas das mais memoráveis da carreira do grupo.

(1978) Powerage

1 - Rock N' Roll Damnation
2 - Don't Payment Blues
3 - Gimme a Bullet
4 - Riff Raff
5 - Sin City
6 - What's Next To The Moon
7 - Gone Shootin'
8 - Up To My Neck In You
9 - Kicked In The Teeth


Eu sei que isso não faz diferença alguma pra ninguém, mas só quero avisar que tirarei, a partir de hoje, umas pequenas férias do blog, pois sexta-feira vou pra Salvador e só estarei de volta no dia 05 de janeiro, com certeza com muitas novidades. Então, espero que, até lá, vocês todos já estejam viciados em AC/DC!
Tenham um feliz natal e uma maravilhosa virada de ano!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Por trás de seus olhos

Antes que você vá embora,
Eu só queria entender o que está por trás de seus olhos.
Qual é o som que você mais gosta?
O que te faz soltar a mais escandalosa gargalhada?
O que te deixa arrepiada?
Queria entender a graça:
Tendo-a inteira aos meus braços,
Criando instáveis laços,
Percebendo o calor dos seus lábios,
Sinto, apenas, o nulo, o nada.
Ao mesmo tempo, o desejo cresce,
A curiosidade mata.

Não me importo com o contexto,
Só quero poder admirá-la,
Olhar no fundo de seus olhos
E saber o que se passa.
Quais são as suas paixões?
Qual o mote que te faz divagar?
No final, eu me acabo em imaginar,
Me torturo tentando te decifrar,
Me frustro por nunca chegar lá.
E aí você vai embora e eu procuro um outro par.
Torno a me intrigar.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pra quem nunca foi a um verdadeiro show de rock n' roll

27 de novembro de 2009. É até difícil expressar o quanto eu esperei por esse dia... AC/DC no Brasil, porra!! Eu já escutei tanto a discografia desses caras, já balancei tanto a cabeça com vídeos de shows ao longo dos seus 36 anos de carreira, já perdi tanto tempo na internet procurando os seus B-sides e bootlegs mais mirabolantes, pesquisando, lendo e relendo uma infinidade de versões da sua biografia que, afinal, é óbvio que esse show seria o melhor da minha vida!
Em sua visita ao Brasil, o AC/DC realizou um único show no Estádio do Morumbi, em São Paulo, como parte da turnê de seu álbum mais recente, "Black Ice", de 2008. Essa foi a terceira vez em que a banda se apresentou aqui, sendo a primeira em 1985, no Rock In Rio I, e a segunda em 1996, no Estádio do Pacaembú, em São Paulo, e na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba. Seus integrantes são Brian Johnson (vocal), que substituiu Bon Scott em 1980, após sua morte, Angus Young (guitarra solo), Malcolm Young (guitarra rítmica e backing vocals), Cliff Williams (baixo e backing vocals) e Phil Rudd (bateria).
Os irmãos Young formaram o AC/DC na Austrália, em 1973, e criaram uma sonoridade que segue, desde os primórdios, uma fórmula simples e eficiente: um rock n' roll cru, pesado, que gira em torno de riffs de guitarra bem grudentos e que ganha grandes proporções ao vivo, principalmente em função da performance epilética de Angus. As letras, divertidas e descompromissadas, falam, basicamente, de sexo e rock n' roll.
Tudo bem, eu posso ser bem suspeito pra falar, mas, já que é assim, perguntem a qualquer um que estava lá. O chão tremeu, o público foi ao delírio, é uma unanimidade: 65 mil pessoas arrepiadas com a performance e a potência do som do AC/DC. É só refletir um pouco. Para ajudá-los, contarei o que vi com os meus próprios olhos.
Depois de 22 minutos de tortura assistindo o show de abertura com Andreas Kisser (Sepultura) na guitarra e Nasi (ex-Ira!) no vocal, a ansiedade crescia, pairando no ar um clima de "não acredito que estou aqui". Finalmente, as luzes se apagaram e começou o desenho animado de introdução no telão. Corria pelos trilhos uma sinistra locomotiva a vapor com o logo do AC/DC, comandada por Angus Young na sua forma clássica de diabinho. Duas mulheres gostosas invadiram o vagão onde Angus alimentava a caldeira, o seduziram e o nocaltearam para tentar frear a maria-fumaça. O freio-de-mão acabou quebrando em suas mãos, as moças saltaram e o veículo seguiu, desgovernado, em direção ao telão até se chocar. Houve uma explosão, o telão central se abriu e, dele, surgiu um enorme trem que invadiu o palco, enquanto, finalmente, a banda entrava, abrindo o show com o carro-chefe da turnê: "Rock N' Roll Train", do álbum "Black Ice". O estádio vibrou ao ver o já quinquagenário guitarrista com seu emblemático uniforme escolar e o sexagenário Brian Johnson esbanjando carisma e presença.
Após a primeira música, que considero um mero aquecimento, começou a metralhadora de clássicos que dissolviam apenas mais três canções do último disco. Logo em seguida, veio "Hell Ain't a Bad Place To Be", do álbum "Let There Be Rock", de 1977, tempo em que Bon Scott ainda era o frontman e o AC/DC tocava em pequenos clubes na primeira turnê européia. Tudo já estava perfeito quando Angus lançou o riff de "Back In Black", do disco homônimo, de 1980, provavelmente o maior sucesso do grupo, e o estádio começou o que parecia um orgasmo coletivo.
A partir daí, algumas músicas merecem um comentário especial como pontos altíssimos do show. "The Jack", do álbum "High Voltage", de 1975, foi uma delas. O blues, que na versão de estúdio teve sua letra censurada e travestida em um jogo de cartas ("Jack" significa "valete", em inglês), é cantado, ao vivo, com sua letra original, onde "Jack" é uma expressão usada para denominar uma doença venérea, numa época em que os membros da banda eram obrigados a dividir as mesmas mulheres e acabavam todos contaminados. Cá entre nós, total baixaria hahaha... Enquanto o AC/DC incendiava o público com o clássico, algumas mulheres da platéia apareciam em "close" no telão, e muito satisfeitas, diga-se de passagem. O mesmo aconteceu durante a não menos clássica "You Shook Me All Night Long", do "Back In Black". Apesar do esforço masculino para fazer alguma delas mostrar os "peitinhos", o máximo que conseguimos foi um sutiã, infelizmente. "The Jack" também foi a música escolhida da vez como trilha sonora do velho e popular "strip-tease" de Angus Young. Já se foi o tempo em que ele mostrava a bunda (que alívio...), hoje em dia uma cueca com o logo da banda já basta.
Imediatamente após "The Jack", o sino gigante existente no teto do palco começou a descer, levando a galera à loucura. Brian, num pique, saltava e se pendurava na corda, badalando o que prevê o início de "Hell's Bells", mais uma do "Back In Black", momento marcante em qualquer show dos caras.
"War Machine", do "Black Ice", foi uma grande sacada dessa turnê. Durante a música, uma das melhores do disco, passava, no telão, uma animação em que um avião caça fazia um bombardeio de guitarras e mulheres. Vocês vão pensar "que coisa tosca", mas existe algo mais "AC/DC" que isso?? Pra mim, é genial!
Agora, vamos para as últimas da noite:
"Whole Lotta Rosie", do "Let There Be Rock", fala de uma mulher da Tasmânia com a qual Bon se relacionou que, apesar de ser um peso pesado, era um furacão na cama, segundo a letra. Por isso, quando soou o riff de guitarra, o palco cedeu lugar a uma boneca Rosie gigante, que ficou montada em cima do trem até o fim da música.
Em sequência, atacaram com "Let There Be Rock", do álbum homônimo, um dos hinos da banda. A música contou com um solo de guitarra mais do que prolongado, o que faz parte da fórmula dos shows desde muito tempo, hora em que Angus interage de modo impecável com a multidão.
Brian, então, deu um breve obrigado e eles se retiraram do palco, esperando o óbvio pedido sedento de "bis" dos fãs. Depois de bastante suspense, uma fumaça tomou conta do palco e o nosso guitarrista de 1 metro e meio surgiu do chão tocando o riff de "Highway to Hell", do álbum homônimo, de 1979, fazendo o Morumbi inteiro pular.
E, fechando com chave de ouro, o AC/DC encerrou a noite com a rotineira, mas absolutamente necessária, "For Those About To Rock (We Salute You)", também faixa-título do álbum de mesmo nome, de 1981, que, dentre todas as qualidades, possui uma das letras mais simbólicas do rock. E, é claro, não poderiam faltar os bons e velhos canhões emergindo no palco e fazendo disparos durante a calorosa saideira. Após o término do show, ainda houve um lindo espetáculo de fogos.


Aqui está a setlist:

1) Intro / Rock N' Roll Train
2) Hell Ain't a Bad Place To Be
3) Back In Black
4) Big Jack
5) Dirty Deeds And The Done Dirt Cheap
6) Shot Down In Flames
7) Thunderstruck
8) Black Ice
9) The Jack
10) Hell's Bells
11) Shoot To Thrill
12) War Machine
13) Dog Eat Dog
14) You Shook Me All Night Long
15) T.N.T.
16) Whole Lotta Rosie
17) Let There Be Rock
18) Highway to Hell
19) For Those About To Rock (We Salute You)


Tomara que, depois de ter escrito tanto, eu tenha conseguido inspirar algum leitor a ouvir AC/DC! Mas, não seja por isso... Na próxima vez em que eu passar por aqui, postarei um álbum inteirinho pra vocês baixarem!
Até lá!